quinta-feira, agosto 08, 2002

Acho que não preciso falar muito sobre quem é Álvaro Pereira Jr. O cara ocupa um dos espaços mais lidos no caderno Folhateen, da Folha de S. Paulo, e seus textos provocam reações de amor e ódio expressados em listas de discussões sobre música na Internet. Sentimentos semelhantes não eram provocados desde a épcoa em que Paulo Francis estava vivo.
Pois bem, acaba de ser publicada a crítica definitiva ao seu trabalho. O site é o ScreamYell, um dos e-zines mais interessantes da rede. O seu autor, Marcelo Costa, um de seus editores, em seu artigo, coloca o dedo na ferida: "Criticar a MPB brasileira é algo que contaminou alguns dos melhores jornalistas brasileiros, o que é uma pena, já que se não fossem eles falarem de Caetano e Gil, ninguém mais falaria (eu mesmo, nada tenho contra a MPB e até gosto). Ou seja, de modo contrário, estes jornalistas estão mantendo a MPB na mídia enquanto muita banda legal lança discos sensacionais que passam desapercebidos porque o espaço foi ocupado por alguma piadinha acerca de Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Titãs." Como está bem explicito no trecho, essa não é uma característica de Álvaro. Seus colegas do programa Garagem também acabam dando um precisoso espaço às avessas para os medalhões da MPB, com a quebra sumária de seus CDs. No começo, era engraçado, mas essa turma está há mais de três anos nessa toada e nos últimos tempos é possível verificar o cansaço desse discurso.
Pode parecer que a bronca dos ilustres jornalistas é puramente estética, mas não é. Algum dos leitores deve se lembrar da entrevista do também jornalista Cláudio Tognolli à revista Caros Amigos. Nela, ele explicava o funcionamento da Máfia do Dendê, captaneada por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Segundo Tognolli, para se manter em evidência os dois compositores têm uma forte influência nas redações dos cadernos culturais dos principais jornais e revistas do país e chegam até e pedir cabeças de quem fala mal deles. Alguns jornalistas foram vítimas dessa máfia. Luis Antonio Giron é uma delas. Criou-se a partir daí um sentimento de revanche que não poderia ser brando. Eles usam de todos os espaços de que possuem na mída para detonar esses medalhões da MPB e seus agregados. Nesse conflito, quem sai perdendo e o lado dos jornalistas. Como bem observou Costa falando especificamente sobre a atuação de Álvaro Pereira Jr., as críticas, ainda que severas, servem apenas para mantê-los na mídia, no já manjado esquema "falem mal, mas falem da gente".
O artigo de Marcelo Costa (que pode ser lido aqui) não vai mudar o panorama, mas pelo menos serve como diagnóstico para o problema. É mais uma boa contribuição para esse debante sobre o estágio atual da crítica de música.

 
www.e-referrer.com