terça-feira, julho 02, 2002

A Tina Andrade escreveu um artigo oportuno sobre plágios de conteúdo na Internet. Após consultar várias fontes, ela chega a uma conclusão surpreendente sobre o assunto. Leitura obrigatória.

Esse artigo que escrevi deveria sair no zine da Megssa Fernandes. Como ela não deu continuidade ao projeto, acabei por publicá-lo na página da Rádio Onze. Para mim, trata-se do verdadeiro problema da crítica musical brasileira no momento.

Os partidos políticos da critica musical

Há alguns anos eu estava assitindo numa dessas madrugadas na televisão o programa "Imprensa na TV". Na ocasião, estava sendo entrevistado o jornalista João Gabriel de Lima, então na revista Veja, que falava sobre jornalismo cultural. O apresentador (se não estou enganado era o Marco Antonio Rocha) perguntou em um determinado momento qual seria o principal defeito da crítica musical. Lima respondeu que era o excesso de "partidos políticos". Traduzindo melhor: para ele, os críticos sempre tomam partido de um determinado movimento ou estilo musical e fazem o seu jornalismo. Isso torna difícil a imparcialidade no exercício da crítica. Por exemplo: como acreditar numa crítica de um álbum de MPB feita por um jornalista que admira o som "grunge" das bandas de Seattle? Dependendo do profissional destacado para fazer a resenha do tal álbum, já existirá uma pré-disposição para detoná-lo. E o inverso acontece. Um jornalista que atua como "víúva da MPB" não terá a sensiblidade necessária para analisar um trabalho de alguns dos expoentes do grunge.

A Onzenet pega o mote deixado por João Gabriel de Lima e tenta identificar quais são os "partidos políticos" da crítica musical que atuam hoje nas redações dos cadernos culturais nos jornais e nas revistas de música. Vamos lá.

Partido da Máfia do Dendê (PMD) - Alguém aí lembra da entrevista reveladora do jornalista Cláudio Julio Tognolli à revista Caros Amigos? Os participantes da "Máfia do Dendê" são os grandes nomes da MPB (em especial, "os baianos que gostam de cantar na televisão", como disse certa vez Paulo Francis) que, para manter seu prestígio intacto até os dias de hoje, não hesitam em cooptar jornalistas para que não se fale mal deles, como afirmou Tognolli. É uma troca de interesses. Para continuar se vendo em evidência, um dos tais grandes nomes passa a "adotar" algum jornalista de uma grande redação de jornal seduzindo-o com informações exclusivas e/ou entrevistas . Em troca, o cooptado, agora como "baba-ovo", passa a falar bem do artista, não ousa criticá-lo nem mesmo quando o lançamento mais recente ou o show que esteja fazendo é um verdadeiro abacaxi. O pior é quando um desses medalhões decide adotar algum talento novo da MPB que esteja surgindo. Se a "Máfia do Dendê" dá o aval, os jornalistas que dela fazem parte iniciam um verdadeiro festival de elogios a essa nova "pepita de ouro" (e que, em muitos dos casos, nem merece ser tratado assim). Não há espaço do PMD para pessoas que entendem de música.

Partido de Garagem (PG) - Trata-se de um dos principais adversários do Partido da Máfia do Dendê. É formado por jornalistas que estão antenados com o rock inglês e norte-americano. Foram os principais divulgadores do movimento "grunge", vindo de Seatlle (EUA), aqui no Brasil lá pelos idos de 1991 e 1992. Mais tarde, alguns de seus quadros propagaram por aqui a ressureição do brit pop. Esses partidarios vivem nesse jogo de observação. Se o rock dos EUA der as cartas, todos estão com seus faróis apontados para lá. Se a hegemonia estiver com o rock inglês, todos se voltarão em direção à terra da Rainha Elisabeth. Uma das caracterisrtias principais é divlugar bandas de rock obscuras que poucos conhecem em terra brasilis. Algumas sequer são reconhecidas em seus países de origem. Isso dá o status de modernidade ao PG. Porém, nem todas merecem esse oba-oba todo, uma vez que muitas delas são chatíssimas e agradam só mesmo o gosto refinado dos membros do Partido de Garagem. Assim como o PMD, os garagistas têm representantes em todas as redações de jornais e alguns até mantém programas de rádio no ar. A grande contribuição do PG é essa oposição sistemártica ao Partido da Máfia do Dendê. Uma das grandes armas usadas pelos garagistas é a quebra de discos dos medalhões da MPB em suas tranmissões radiofônicas. (convém lembrar que os nazistas também faziam isso). Como nem tudo é perfeito, há um certo cansaço nesse discurso anti-MPB e pró-rock. No começo, a tática de quebra de discos soava engraçada. Hoje, fica parecendo molecagem de um bando de trintões que sofre da chamada "Síndrome de Peter Pan". Outra característica a ser analisada é certa tendência ao patrulhamento musical de parte dos integrantes do PG. Ai do ouvinte que, por um desses acasos da vida, gosta de Caetano Veloso e Sonic Youth ao mesmo tempo. O partido sofreu um duro golpe quando um dos integrantes da banda de rock alternativo Superchunk se declarou fã de algumas coisas da música popular brasileira.

Partido do Techno (PTechno) - Apesar da coincidência de iniciais não há nenhuma relação com o Partido dos Trabalhadores, tanto que vamos chamá-lo do de PTechno. Quem milita do PTechno acha que a salvação dos males da música está na alta tecnologia. Violões e guitarras fazem parte de um passado que deve ser esquecido e devidamente enterrado. Individualista ao extremo, uma das características principais é o culto à personalidade...dos DJs. Eles é quem são os verdadeiros "stars" desse partido. Aliás, muitos jornalistas do PTechno fazem uns bicos por fora como DJs em festas. O jornalismo paga mal e as pessoas tem que costurar para fora de vez em quando. Nesse caso, uma atividade acaba sendo o trampolim da outra. O pior é que muitos deles nem usam seus verdadeiros nomes de batismo para o ofício de DJ. Acabam usando pseudônimos.

Partido do Jabá (PJ) - Formado por críticos musicais que não hesitam em desfrutar das benesses oferecidas pelos departamentos de divulgações das gravadoras, como viagens pagas para assistir a shows, etc. (muitos dos orgãos de imprensa para os quais trabalham até fazem questão de dizer que tal viagem foi paga por determinada gravadora, mas são minoria). Alguns dos partidários do PJ chegaram em certa época a lançar revistas de música com publicidade bancada pelos departamentos de marketing das gravadoras. Com isso era comum que uma publicação chegasse às bancas dando capa para um determinado artista e publicando na contracapa um anúncio do CD lançado por esse mesmo artista. O leitor não sabia por qual lado começar a leitura da revista, mas isso era um detalhe que pouco importava. Segundo um velho político baiano, "jornalista se compra com duas coisas: dinheiro ou informação". O PJ prefere a primeira das opções.

Partido dos Reclamões (PR) - Esse partido é formado por pessoas que militam em fanzines de papel ou e-zines. O perfil, com algumas variações, é praticamente o mesmo: são fãs de música insatisfeitos com o jornalismo musical e decidem lançar publicações rudmentares, naquele espírito "faça-você-mesmo" do punk. O lado bom é que os zineiros (como são chamados) estão livres dos vícios encontrados no jornalismo musical. O lado ruim é uma certa tendência a ficar reclamando de algumas posturas da grande imprensa e se fixar apenas nisso. São poucos aqueles que querem deixar a sua comoda posição de zineiros e tentar a sorte numa das redações. Tirando esse lado da reclamação, tem muita gente boa no PR.

Esses foram os partidos identificados até o momento. Se o amigo leitor souber de mais algum que esteja atuando na crítica musical, escreva para o e-mail dessa coluna.

 
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